Nasci numa família em que as mulheres predominam largamente.
Talvez, também por isso, sempre cresci a imaginar como seria ter um irmão. Eu queria um irmão mais velho. No fundo, inconscientemente procuraria quem me “protegesse” de alguma forma. Provavelmente procurava uma figura masculina que preenchesse as minhas carências afetivas.
A par disto, creio que, mediante traumas de infância/adolescência com “falsas amigas”, sentindo-me muitas vezes “atraiçoada” por elas, fui criando subtilmente uma espécie de “rejeição” à figura feminina. Rejeição ou inconformidade, desconfiança. E sim, passei (durante loooongos anos), por aquela fase em que “eu só me dou bem no meio de rapazes! E acreditem, também tive obviamente várias aprendizagens (com muita dor) a fazer neste sentido.
Realmente, tudo o que não é equilibrado e feito de um lugar de maturidade e consciência, sempre traz repercussões “doloridas”.
A par disto, creio que, mediante traumas de infância/adolescência com “falsas amigas”, sentindo-me muitas vezes “atraiçoada” por elas, fui criando subtilmente uma espécie de “rejeição” à figura feminina. Rejeição ou inconformidade, desconfiança. E sim, passei (durante loooongos anos), por aquela fase em que “eu só me dou bem no meio de rapazes! E acreditem, a par de ter tido sempre a benção da vida me ter dado muitos irmãos, pais, companheiros e amigos maravilhosos, também tive obviamente várias aprendizagens (com muita dor) a fazer neste sentido.
Quando iniciei este projeto, fui me apercebendo de que muitas
mulheres iam se conectando comigo. Para mim era algo como “não
percebo, eu sempre me dei mais com homens, não tenho muita afinidade
com mulheres (pensava eu). Como pode estar isto a acontecer?”… E
a partir dessa fase, realmente comecei a perceber que as minhas
amizades que até aí, eram na sua grande maioria masculinas, estas
foram sendo substituídas por mulheres. Muitas mulheres!
Confesso que levei um tempo a “aceitar” isso em mim. Agora percebo: faz parte dessa minha “cura” com o feminino. No fundo negava partes do meu feminino (apesar de aparentemente ser feminina e “boa menina”, como se quer!). Percebo que talvez algumas feridas provocadas por abordagens e interações de mulheres, ao longo do tempo, me faziam associar o feminino a um lado mais negativo, mordaz e acusatório (motivado pelas experiências até então).
Sou tão grata pelas maravilhosas mulheres que se têm cruzado no meu caminho. Ensinam-me e inspiram-me todos os dias. Também às mulheres que fizeram e fazem parte das experiências mais dolorosas, pois fazem-me ver também as partes de sombra em mim a curar.
A verdade é que a arte é reveladora. É cura.
É um processo de cura contínuo. Um espelho que nos ajuda a ver partes de nós.
E realmente era de facto uma incoerência. Imagine-se! Eu que de alguma forma nutria alguma “rejeição” ao feminino, afinal desde o início sempre pintei a figura feminina. Sempre! Nas suas mais variadas facetas. Talvez sempre tenha sido uma “transferência” do que eu idealizo. Mas hoje, acredito que essas versões mais belas e puras da mulher também existem sim. Este projeto e a minha arte têm-me trazido isso. E sou tão grata!
Neste momento (e desde há algum tempo, e porque tudo na vida são fases, etapas, ciclos), atrai-me muito representar temas como o Sagrado Feminino. Essa magia e poder criador e criativo da mulher. A multidimensionalidade. E aceito o que vem, o que me inspira no momento, pois se assim é, é porque existe aprendizagem e cura a fazer nesse sentido.
Tudo isto, tudo o que faço, já não se trata apenas de mim. Trata-se de mim, de quem se conecta com a minha arte, comigo... Pois se assim é, significa que existe um elo de conectação e afinidade, e a cura de um, é a cura do outro. <3