Veículos de Afectos
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Sempre adorei escrever.
A minha adolescência (e pré-adolescência), fez-se muito,
nutrida através da correspondência escrita. Familiares emigrados, “pen friends”
e até mesmo com os amigos da escola, durante as férias.
Recordo a expectativa e a emoção de ouvir o som da "motoreta" do Carteiro (até me recordo do seu nome: "Sr. Octávio"), que ansiosamente aguardava à hora certa.
Era imenso o fascínio que nutria por esta profissão. Para mim, eram verdadeiros Mensageiros de Afectos!
Folhas, postais, fotos, desenhos. Eram veículos de notícias
e histórias. Emoções que eram facilmente revividas, registadas e guardadas
desta forma.
Hoje, acredito que nestas gerações mais recentes, muitos não
terão ainda sequer tido a experiência de escrever uma carta ou um postal à mão.
Ir aos Correios, colar um selo, colocá-la cuidadosamente na Caixa de Correio.
Como se de um ritual se tratasse. Recordo todos estes passos a cada carta
enviada. O momento de colocar na Caixa de Correio, soava ao lançamento
de um “Pombo Correio”. Partia e regressaria com alguma novidade que aguardava
com muita expectativa.
Hoje, é verdade que aparentemente a comunicação se faz de
forma mais fácil e mais rápida. Mas não sei se com a mesma profundidade. O
próprio acto de desenhar cada letra, o tempo que para tal dedicamos, convidava
a uma introspeção que nos permitia chegar ao mais fundo de nós.
Acredito que quem teve essa experiência, sentirá que, quem
recebia as nossas cartas, nos conhecia melhor e mais profundamente, que outras
pessoas com quem lidávamos diariamente…
Hoje em dia, confesso que eu própria não tenho essa prática
há muito. Apenas muito esporadicamente, como que numa tentativa de não apagar
para sempre um ritual tão bonito.
Foi com este sentimento que decidi também criar uma coleção
de postais que possam transportar palavras, cores, emoções, e principalmente
Inspiração.
Adoraria saber que através destes postais, alguém se
inspirou a escrever a alguém. Mesmo que simplesmente a partilhar um “olá”, um
abraço, ou um simples um “Estou aqui”.
Fazer-se perto através da palavra desenhada em papel…
Da minha parte... reiniciarei este "ritual" desde já. Há um postal que já tem destino marcado "além fronteira" ;)